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Web Rádio "SAUDADE SERTANEJA, transmitindo de Bauru/SP, Sob Direção Geral de Tião Camargo

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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

DE VOLTA À MINHA VELHA MORADA

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Sentindo-me como um escravo que volta à senzala, voltei para rever a fazenda onde me criei. Foi um passeio rápido, numa dessas tardes  preguiçosa de domingo. Levei comigo os filhos e a esposa, ansioso por verer a velha casa onde morei quando menino, dirigi-me rapidamente até aquele mausoléu de minha infância. A velha porta entreaberta permitia a entrada de pequenos animais que  buscavam abrigo em seu interior. Com um pé no baldrame segurei firme em um dos batentes e me embrenhei em meu próprio passado.

Pisando macio o carcomido assoalho que brandia sob meus pés, senti um arrepio na alma quando tive a nítida impressão de ter ouvido, lá fora, um costumeiro “ooooiii de casa”. Contive a emoção apanhando folhas de ramos que surgiam pelas frestas do velho piso de madeira  e continuei a vasculhar minhas memórias.

O velho telhado preste a desabar, deixava réstias de sol em forma de luz alongada fazer parte daquele cenário onde cipós desgrenhados pendiam do teto criando um quadro abjeto que contrastava com blandiosas lembranças. O vento manso fez ranger uma das janelas que parecia me dar boas vindas, mas não me eludi, e afastei-me em busca de um outro cenário que queria rever; a velha  mangueira do gado. Queria observar alguns detalhes, como aquele onde a boiada afunilava para adentrar ao curral, pisoteando de forma intensa o mesmo espaço impedindo a grama de crescer.

Aquele pedaço de chão nu só era refrescado pelo sereno da noite e  pelo copado do velho jatubazeiro que, com o cair da tarde, deixava sua sombra se desfraldar e cobrir os quase 15 metros  que o separava do curral, cuja sombra abrigava ainda um coxo de cabriúva cavado a enxó  que jazia sobre duas forquilha de faveiro, onde o sal grosso era lambido pelo gado por horas a fio até que o rebanho resolvia descer rumo ao rio para beber água, de forma rápida e em desalinho, quase em tropelia e, alguns minutos depois, voltavam preguiçosamente  um após outro, em fila indiana, na mesma trilha já funda pela repetição desse ritual. Esse cenário só existe em minha memória, pois ali já prospera um bem sucedido agro negocio... 

Lázaro Carneiro

lazaro.camargo@yahoo.com.br

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